sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Diário de uma gota - review

Diário de uma gota

    Autor(a): Ivete Carneiro
    Edição: 1ª edição - 09/2011
    Editora: QUIDNOVI


Diário de uma gota retrata a passagem da jornalista Ivete Carneiro, pela missão da AMI na Guiné -Bissau, no ano de 2009.

    A autora descreve, de uma forma muito pessoal,  os 31 dias de permanência no 10º país mais pobre do mundo. As descrições cruas de um país que se viu miserável depois do colonialismo português e que parece ter perdido a vontade de viver. Um país mergulhado na sua pobreza e sem ânimo para lutar contra a corrente que o arrasta.
    "Além do leve-leve, do não fazer nenhum daquela gente que nos aguarda na rampa mar adentro, porque andava por ali e ouviu o motor da canoa. Gente que se limita a estar, só à espera do branco que há-de fazer algo por eles, numa Guiné viciada em ajuda internacional. A capital, não foi dito, está cheia de brancos. Quase todos em regime de cooperação. Soa estranho num país onde todos parecem ter telemóvel, mesmo onde não há cobertura de rede. Num país onde cobram horrores por dez gramas de sementes."

    Neste "diário de missão" apercebemo-nos da terrível condição em que vivem as pessoas de Bolama e da Ilha das Galinhas. Descrições de um país que vive sob uma chuva constante, que parece lavar a própria alma do país. A descrição do hospital de Bolama é particularmente impressionante.
    "As paredes já foram uniformes. São uma teia de bolor e sujidade, a condizer com as camas, velhas, um ramo rapado à catana em cada canto, rede mosquiteira verde embrulhada no céu. Cheira a colchões de espuma enegrecidos pela passagem, cobertos de trapos metidos à pressa numa bacia por quem está são e arranjou, de repente, um emprego: acompanhar quem não está. Têm África estampada, nos trapos, não há lençóis públicos, tal como não há comida (…) Não há luz. Mas há maternidade, com incubadora e berços escurecidos. As camas são como as outras e as marquesas sobraram de décadas muito passadas."

    Choca-nos, tal como chocou à autora, a mentalidade daquele povo. Uma forma de pensar tão distante da europeia!
    "Bolama é o retracto de um passado que só pode ter sido lindo. É um presente inebriante, chocante, parado não se sabe porquê, onde a saúde tem que ser paga. São as regras, a preços irrisórios. Dizem que não conseguem. E, de repente, toca um telemóvel. Mas não há redes mosquiteiras em todas as casas. São caras. Menos de uma mão cheia de euros, o preço de um cartão de saldo para o telemóvel (…)

    Uma experiencia física e psicologicamente desgastante, onde muitas vezes a autora e os seus companheiros se perguntam de que valerá o seu esforço. Fará alguma diferença? Poderão eles mudar alguma coisa? Serão apenas mais uma gota …?

    Opinião

    Um livro absorvente.  Uma janela aberta  para uma realidade que, do conforto dos nossos sofá, é nos impossível compreender em toda a sua extensão. Só quem, como a Ivete, percorreu os caminhos lamacentos das tabancas, dormiu sob a chuva incessante, e viu a fatalidade da morte infantil é que sabe o que é a Guiné Bissau.

      Nota: Os direitos de autor do livro revertem a favor da Assistência Médica Internacional.


    Alguns sítios onde encontrar este livro



    Até breve e...Boas Leituras!!!


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