Diário de uma gota
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Autor(a): Ivete Carneiro
Edição: 1ª edição - 09/2011
Editora: QUIDNOVI
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Diário de uma gota retrata a passagem da
jornalista Ivete Carneiro, pela missão da AMI na Guiné -Bissau, no ano de
2009.
A autora descreve,
de uma forma muito pessoal, os 31 dias
de permanência no 10º país mais pobre do mundo. As descrições cruas de um país
que se viu miserável depois do colonialismo português e que parece ter perdido
a vontade de viver. Um país mergulhado na sua pobreza e sem ânimo para lutar
contra a corrente que o arrasta.
"Além do leve-leve, do não fazer nenhum daquela
gente que nos aguarda na rampa mar adentro, porque andava por ali e ouviu o
motor da canoa. Gente que se limita a estar, só à espera do branco que há-de
fazer algo por eles, numa Guiné viciada em ajuda internacional. A capital, não
foi dito, está cheia de brancos. Quase todos em regime de cooperação. Soa
estranho num país onde todos parecem ter telemóvel, mesmo onde não há
cobertura de rede. Num país onde cobram horrores por dez gramas de sementes."
Neste "diário
de missão" apercebemo-nos da terrível condição em que vivem as pessoas de
Bolama e da Ilha das Galinhas. Descrições de um país que vive sob uma chuva
constante, que parece lavar a própria alma do país. A descrição do hospital de
Bolama é particularmente impressionante.
"As paredes já foram uniformes. São uma teia de bolor
e sujidade, a condizer com as camas, velhas, um ramo rapado à catana em cada
canto, rede mosquiteira verde embrulhada no céu. Cheira a colchões de espuma
enegrecidos pela passagem, cobertos de trapos metidos à pressa numa bacia por
quem está são e arranjou, de repente, um emprego: acompanhar quem não está.
Têm África estampada, nos trapos, não há lençóis públicos, tal como não há
comida (…) Não há luz. Mas há maternidade, com incubadora e berços escurecidos.
As camas são como as outras e as marquesas sobraram de décadas muito
passadas."
Choca-nos, tal como
chocou à autora, a mentalidade daquele povo. Uma forma de pensar tão distante
da europeia!
"Bolama
é o retracto de um passado que só pode ter sido lindo. É um presente
inebriante, chocante, parado não se sabe porquê, onde a saúde tem que ser
paga. São as regras, a preços irrisórios. Dizem que não conseguem. E, de
repente, toca um telemóvel. Mas não há redes mosquiteiras em todas as casas.
São caras. Menos de uma mão cheia de euros, o preço de um cartão de saldo para
o telemóvel (…)
Uma experiencia
física e psicologicamente desgastante, onde muitas vezes a autora e os seus
companheiros se perguntam de que valerá o seu esforço. Fará alguma diferença?
Poderão eles mudar alguma coisa? Serão apenas mais uma gota …?
Opinião
Um livro
absorvente. Uma janela aberta para uma realidade que, do conforto dos
nossos sofá, é nos impossível compreender em toda a sua extensão. Só quem,
como a Ivete, percorreu os caminhos lamacentos das tabancas, dormiu sob a
chuva incessante, e viu a fatalidade da morte infantil é que sabe o que é a
Guiné Bissau.
Nota: Os direitos de autor do livro revertem a favor da Assistência Médica Internacional.
Alguns sítios onde encontrar este livro
Até breve e...Boas
Leituras!!!
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